Quando eu tinha 14 anos fiquei sabendo que existia um grupo de voluntários do Greenpeace em Porto Alegre, cidade próxima da minha cidade natal, e orgulhosamente posso dizer que a primeira vez que fui do interior à capital Gaúcha sozinha foi para me inscrever para ser voluntária.
Me lembro de outro episódio em que criei panfletos que falavam sobre reciclagem, estava pronta para imprimi-los e distribuir no centro da cidade quando meu pai disse: “já pensou que esses panfletos podem gerar mais lixo se as pessoas não lerem e os jogarem janela do carro a fora?”. Não imprimi, mas refleti muito nestas palavras.
Em algum momento desisti, nunca totalmente, mas ficando mais relaxada com a atual conjuntura do planeta, e também, é claro, tentando ser uma pessoa normal e não uma chata. Se ninguém está preocupado, por que eu deveria estar? Que culpa tenho eu em fazer parte da geração fruta-descascada-embrulhada-no-plástico?
Eu já tenho tantos problemas pra me preocupar, e quero me divertir um pouco, que se dane. Certo?
Errado. E todos nós precisamos urgentemente parar de nos enganarmos a respeito disso. Precisamos nos tornar mais responsáveis pelo estilo de vida que levamos, o que consumimos, como consumimos e o que acontece com o nosso lixo depois que ele parte de nossas mãos, o que tiramos e o que doamos de volta à terra.
É assustador pensar que há dois séculos, quando se deu a invenção do plástico, este era considerado o material inovador que ampliaria a durabilidade de produtos, porém, a fabricação de plástico é tão fácil e barata (em termos econômicos) que acabou se tornando o material mais comum de descarte — durável e descartável, duas palavras que não combinam.
A indústria leva grande parte da culpa, nos entupindo de plástico com a promessa de melhorar as nossas vidas, nos liberar para focar no que realmente importa. Se tornou comum pensar “estou com pressa, é mais prático, só usar e jogar fora” e esquecer que o lixo descartado não foi para lugar nenhum, continua aqui, no nosso planeta. Se cada uma das ~7.125 bilhões de pessoas do mundo tem essa mesma atitude de descarte, pensa só nessa quantidade imensa de lixo!
É preciso parar de desculpas e dar a importância necessária a algo sério e que diz respeito a todos nós: A sustentabilidade deste ponto pálido e azul que habitamos, único pra nós, e que está adoecendo rapidamente enquanto grita por socorro.
Eu acredito que a força de uma população se faz um indivíduo de cada vez, é assim que toda boa luta e mudança acontece e, como indivíduo, tenho analisado o meu impacto pessoal, pesquisado e testado algumas trocas de comportamento no meu dia a dia. Meu primeiro passo foi conhecer o meu próprio lixo, observando o que eu consumo e o que eu descarto, e como eu descarto, para então tomar uma atitude a respeito disso.
Algumas coisas são simples de notar e logo mudar, outras requerem mais força de vontade e adaptação. Tenho me divertido e aprendido muito no processo, e quero de alguma forma compartilhar um pouco mais dessa jornada por aqui e quem sabe, de indivíduo para indivíduo, conseguiremos mudar os nosso hábitos a fim de, como espécie, habitar esta Terra por mais tempo?
Por que plástico é um problema?
A vida é muito confortável quando se tem plástico para resolver todos os nosso problemas. Quando eu comento com as pessoas sobre os meus esforços para viver sem plástico, muita gente vem com o argumento de que plástico é reciclável, sem saber que, por mais contraditório que seja, toda essa praticidade que o plástico nos traz não se aplica a sua criação nem destruição/reciclagem.
A maioria dos plásticos são feitos de petróleo ou gás natural, recursos não renováveis extraídos e processados utilizando técnicas de uso intensivo de energia, que destroem ecossistemas. A fabricação de plástico, bem como a sua destruição por incineração, polui o ar, a terra e a água e expõe os trabalhadores a produtos químicos super tóxicos, incluindo agentes cancerígenos.
Além disso, estima-se que somente 5% de todo o plástico produzido vai para a reciclagem e, quanto mais vezes o material passa pelo processo de reciclagem, mais ele perde qualidade até que, em algum momento, há somente plástico que não pode ser reutilizado para nada dado sua má qualidade.
[mais sobre fabricação de plástico – inglês] [mais sobre processo de reciclagem – inglês]
Ambientalmente falando, o plástico é um desastre que continua a crescer, está em todo canto, inclusive no ar. Quando se começa a tentar viver sem plástico nota-se que ele está em grande parte das coisas que consumimos.
Estima-se que a quantidade de plástico saindo da terra firme e indo parar no oceano está entre 5 e 13 milhões de toneladas a cada ano, o que representa uma grande ameaça para os ecossistemas marinhos, onde animais adoecem, se machucam e morrem por conta de se alimentarem de pedaços de plástico.
[mais sobre plástico no oceano – inglês] [vídeo sobre plástico no oceano – inglês]
Cada indivíduo tem suas necessidades, razões e vontades, mas está na mão de cada um fazer o pouco que pode, doar um pouco de si, mudar seu comportamento por mais mínimo que pareça.
Por isso hoje eu convido você a conhecer o seu lixo, e refletir sobre ele. O que tem ali que pode ser substituído, reduzido, reutilizado, ou reciclado?
[…] continuação do post anterior no qual eu falei um pouco da minha relação com sustentabilidade e os malefícios do plástico no meio-ambiente, quero trazer três dicas de rotina que podem ser um chute inicial para uma vida mais sustentável […]