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5 etapas para Desperdício Zero

Reading Time: 10 minutes

Existe um movimento em crescimento chamado Zero Lixo ou Zero Desperdício, Desperdício Zero (do inglês, Zero Waste). A ideia não é simplesmente viver sem nada de plástico, mas sim, viver sem gerar lixo, evitando qualquer coisa que se precise jogar fora* e que acabe em um aterro, no oceano ou qualquer outro ambiente não controlado.
*Jogar fora é simplesmente um escape mental que criamos como sociedade. Acreditamos que estamos jogando algo fora quando tiramos o lixo de dentro da nossa casa sem lembrar que, no final das contas, esse lixo todo continua dentro, no planeta.

Por existirem em abundância, serem de tão “fácil descarte” e tão prejudiciais ao meio ambiente (desde a extração da matéria prima, fabricação e até mesmo quando acabam na reciclagem), os materiais plásticos acabam ganhando grande destaque na ideia do Desperdício Zero, e, pra mim, acabam sendo um desafio por si só.

Dito isso, hoje gostaria de compartilhar as 5 etapas para Desperdício Zero que tenho usado como orientação e aos poucos incorporado na minha rotina. Essas etapas são baseadas no modelo sugerido pela Bea Johnson, pessoa que me inspira demais, e que é uma das pioneiras do movimento. Segue:

5 etapas para Desperdício Zero: Recusar, Reduzir, Reusar, Reciclar, Adubar

Recusar, Reduzir, Reusar, Adubar, Reciclar

1. Recusar

A primeira etapa é na verdade uma lição que deve ser aplicada a muitos aspectos da vida: Aprender a dizer não.

Para diminuir o desperdício, precisamos aprender a recusar tudo aquilo que não precisamos. Dá pra começar com passos muito pequenos, e, no meu caso comecei boicotando tudo o que é de plástico, principalmente de uso único e descartável: sacolas plásticas, garrafas d’água, canudos, brindes de lojas e eventos e produtos com fácil substituição por versão sem plástico ou sem qualquer tipo de embalagem (frutas e vegetais, por exemplo).

Toda vez que aceitamos algo, seja algo que se compre embalado, um quitute novo que está em degustação naqueles potinhos ou palitos de plástico, o cafezinho na sala de espera ou uma caneta de propaganda em evento, estamos criando demanda para que mais óleo seja extraído da terra para a produção de mais e mais items inúteis para preencher os nossos dias (e os nossos oceanos).

Recusar é um ato simples mas que requer uma certa coragem, afinal de contas as pessoas que normalmente nos oferecem coisas o fazem de boa vontade. Hoje posso dizer que essa é a etapa melhor resolvida na minha jornada, e considero também um ato político e de boicote a futilidade.

2. Reduzir

Se a primeira regra é Recusar, a segunda é, quase que automaticamente, Reduzir. Quando recusamos produtos de difícil ou zero possibilidade de reciclagem, já estamos reduzindo o nosso consumo, que nos tempos de hoje é frenético e automático. Acaba o “Quis, comprei”, começa o “Será que preciso?”.

A indústria nos ensina, por exemplo, que para cada parte da nossa casa precisamos de um produto de limpeza diferente, um produto para o chão, um produto para os vidros, um produto para a privada, um produto para x, y, z… Aqui em casa temos usados somente três produtos para toda a limpeza da casa: Vinagre, bicarbonato de sódio e sabão. Além de sem muito mais barato, não ter que criar espaço pra guardar montes de produtos de limpeza, é natural e não-tóxico, não polui a água e nem precisa de luvas para manusear 

Uma coisa que a Bea fala também é sobre passar por um processo de decluttering, ou seja, se desfazer de coisas que não precisamos e reduzir a quantidade de items que temos em casa, no guarda-roupa, nos armários da cozinha, escondido no porão para “caso precise um dia daqui há 10 anos”, e isso é extremamente importante para o futuro desse estilo de vida também, dado que se desfazer não significa jogar no lixo, mas sim, doar para quem precise, distribuir entre os amigos ou vender para lojas de produtos de segunda mão.

Reduzir significa sentir-se satisfeito com o menos, com o suficiente, e se livrar dos excessos e da necessidade de ter sempre mais coisas, mais produtos, mais do mesmo.

3. Reusar

Reusar significa substituir tudo o que é descartável por uma opção de fácil reuso. É aqui que entra nossas idas à feira que nos possibilitam comprar todos os frutos e vegetais que precisamos nos nossos próprios sacos de pano, sem adesivo e sem embalagem de plástico extra, nossas buscas por estabelecimentos que forneçam produtos à granel de onde saímos com as nossas próprias jarras de vidro ou mesmo os sacos de pano com todo o tipo de grão que precisamos…

E também roupas, móveis e objetos de segunda mão. Precisando de uma jaqueta? Que tal dar uma olhada nos brechós antes de ir direto ao shopping? Vestido para um casamento? Será que rola de pegar emprestado ou alugar? Uma cadeira nova? Será que não tem no brick mesmo? Livro? Já viu se tem em algum sebo? 😉

Reusar me dá uma sensação única de estar sob controle das minhas escolhas como consumidor, dado que eu preciso saber o que vou comprar antes de sair enlouquecida para o supermercado ou o shopping. Preciso saber se preciso de arroz ou massa, ou os dois, para ter jarras ou sacos o suficiente para trazer todas as compras de volta, por exemplo.

Reusar também me dá a feliz sensação de que tempos muito parecidos com os dos nossos avós estão batendo à nossa porta e chegando de forma muito mais incrível, dado toda a consciência e tecnologia que temos hoje. Imagina você poder pedir leite pela internet, especificar os dias para entrega, e ele vir direto da fazenda para a porta da sua casa naqueles latões ou garrafas de vidro? 

4, 5. Reciclar & Adubar

Decidi juntar as duas últimas etapas pois pra mim é um ou o outro, já que elas nos ajudam a resolver o que fazer com o que ainda precisamos descartar. Ou vamos ter coisas para Reciclar, ou coisas para Adubar. Não existe uma opção lixo, tudo ou é reaproveitado ou nem deveria ter entrado na sua casa, percebe?

Para a reciclagem, limpamos todos os itens para ter certeza de que não há resíduos de gordura ou até mesmo possíveis adições à compostagem e tentamos separar papel, vidro, lata, plástico para identificar se tem algo que possa ser reutilizado em casa mesmo e também pois aqui em Amsterdam há pontos de coleta específicos para cada tipo de item e a maioria das redes de supermercados locais faz coleta de garrafas de vidro.

Sobre compostagem, aqui em casa essa parte é a que ainda está mais confusa, estamos recém aprendendo e fazendo nossos primeiros ciclos de adubo, e devo dizer que está aí um bom uso do material plástico: caixas de compostagem (apesar de que há outros jeitos, como madeira, para apartamentos acho que composteiras de plástico são as ideais).

 


 

Em tempos em que se fala tanto em experiências, viver o momento, mindfulness…  Viver sem desperdício tem me mostrado que a maioria das coisas que a gente pensa que precisa é desnecessário, estúpido, e de vaidade. Me ajuda a apertar o botão de pausa na correria que a gente chama de vida, me deixa mais atenta ao que está ao nosso redor e a como eu transformo tudo aquilo que toco sem nem perceber.

Me faz ser mais saudável e diminui a quantidade de besteiras que eu consumo, hoje em dia a única telentrega permitia é pizza (pois somos loucos por pizza!) e se não encontramos o que queremos comer sem embalagem ou em embalagem de fácil reciclagem, vamos à cozinha e mãos na massa (literalmente, dado que o Rafael agora está especialista em criação de fermento biológico). Logo, viver sem desperdício também nos ensina a cozinhar, e a ter paciência!

Viver sem desperdício me leva à feira e a cheirar os vegetais simplesmente por ser delicioso, a experimentar maçãs que o moço cortou para me ajudar a decidir qual o tipo que mais me agrada, a conversar com a senhora da banca de cogumelos para entender como é o cultivo de cada tipo.

Assuntos que nunca pensei que me interessaria agora começam a fazer sentido, jardinagem urbana, por exemplo.

Ainda estou muito longe de produzir lixo nenhum, mas o simples fato de saber que é possível, saber que além de necessário é divertido e me traz tantos benefícios, e a possibilidade de aprender e explorar coisas novas é motivador e gratificante.

John uma vez disse que tudo o que precisamos é amor, amor é tudo o que precisamos. Viver sem desperdício é só amor.


Extra! Extra! Assista a TED Talk da Bea Johnson (em inglês) e conheça mais dessa pessoa e seu estilo de vida incrível:

4 Comments

  1. “Não existe uma opção lixo, tudo ou é reaproveitado ou nem deveria ter entrado na sua casa, percebe?” Sensacional!
    Ah, e quando eu for visitar, pode saber que espero uma pizza ein!

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