Skip to content

Sobre um voo lotado de lixo plástico

Reading Time: 5 minutes

Há mais ou menos 4 meses estou tentando levar uma vida radicalmente sem plástico, e isso significa que evito ao máximo comprar e utilizar coisas em embalagens de difícil ou zero possibilidade de reciclagem.

Mas é claro que eu ainda não consigo cem por cento do tempo não usar plástico, e muitas vezes isso me deixa bastante frustrada e desanimada — principalmente por estar consciente de que não estou fazendo o que me comprometi, porém a cada dia que consigo ir adiante e substituir uma ou outra pequena coisa na minha rotina me sinto mais feliz e realizada.

Hoje quero contar uma história de frustração e realização, que ocorreu em Maio deste ano, quando tive o prazer de voltar ao Brasil por duas semanas para uma visita aos amigos e familiares, e também para falar sobre outra das minhas paixões, o Design, em três lugares incríveis: a UXConfBR, a ADP Labs Brazil e o Sicredi.


Sobre um voo lotado de lixo plástico

Serviço de bordo nos anos 60
Serviço de bordo nos anos 60

Não importa quantas vezes você já embarcou em um avião, a rotina de acordar, ir ao aeroporto e enfrentar as filas é sempre um pouco estressante (um privilégio, mas estressante!). Estava eu sentadinha esperando o embarque começar depois de toda uma função quando me lembrei de como é servida a comida no avião, e não, não é mais como nos anos 60 com lagosta e prataria elegante. Fiquei muito triste pensando que, ou eu ficaria com fome pelas próximas 12 horas, ou eu teria que me sujeitar à alimentação servida nas embalagens descartáveis.

A minha decisão em cima da hora foi me sujeitar a uma única refeição, e pedir bebida somente na minha garrafa de água. Minha primeira refeição foi um pãozinho quente e água para acompanhar (delícia!), mas dado que já tinha comido antes de sair de casa isso foi suficiente. Para a segunda refeição, já provavelmente sobrevoando as Américas, minha fome era tão grande que um pãozinho não iria rolar, peguei a refeição, sem bebida (louca por um café, mas fiquei só na água mesmo).

Logo que pousamos eu já tinha na cabeça os planos para a volta: fazer meu próprio lanche e levar comigo no avião. Felizmente em uma pesquisa rápida na internet descobri que é possível sim levar a sua própria comida à bordo, desde que seja sólida (nada de sopas ou molhos) e esteja bem fechada, com isso, decidi fazer um bolo de banana, alguns sanduíches pequenos, frutas picadas e aquelas cenouras bebês como snacks.

Minha lista de compras inicial era a seguinte:

  • Farinha de trigo integral
  • Fermento
  • Açúcar Mascavo
  • Azeite
  • Ovos
  • Chocolate Amargo
  • Pães
  • Queijo
  • Bananas
  • Uvas
  • Maçã
  • Cenouras bebês
  • Guardanapos
  • Potes para levar

Com uma lista tão bem definida a ideia era não passar mais de 30 minutos no Zaffari, mas quando você se torna mais atento ao que está comprando as primeiras vezes podem levar bem mais tempo do que de costume.

Conflitos e vitórias com essa lista

Como eu já esperava, farinha, fermento, açúcar e ovos foi muito fácil encontrar em embalagem de papel, então um confiante check aqui 

Fiquei alguns longos minutos olhando fixamente para as prateleiras dos azeites pensando em uma solução, já que todo azeite vem em garrafa plástica, e plástico oleoso é ainda mais difícil de se reciclar. Azeite de oliva poderia ser uma solução mas este não serve para receita de bolo. No fim, a melhor e fantástica ideia que tive foi usar manteiga ao invés de azeite! Fiquei muito feliz com essa substituição, já que a manteiga vem em papel, é mais gostosa e tem bem menos embalagem 

Chocolate no Brasil é difícil conseguir sem plástico e os preços estão/estavam ridiculamente altos. Acabei levando um da Neugebauer que vinha em uma caixinha de papel, mas imaginem a minha decepção ao descobrir que dentro do papel o chocolate estava embrulhado em plástico. Mas tudo bem, agora já sabemos que, por mais absurdamente caro que seja, o Lindt é o melhor quando procurando por chocolate sem plástico no Zaffari. 

Para os pães, como eu infelizmente já sabia que não tinha trazido sacos de pano, estava felizinha com a ideia de levar um pacote de Seven Boys (porque eu sou uma criança por dentro <3), mas aí decidi reconsiderar, fiquei andando pelos pães pra lá e pra cá pensando no que seria melhor e acabei pegando pães que vinham em plástico mesmo, e no fim meus pais levaram pão muito melhor e acabei nem usando esse. Super fail.

Para o queijo eu poderia ter pedido na padaria para colocarem em uma embalagem reutilizável, mas infelizmente também não trouxe, então não teve jeito, foi com plástico mesmo. Procuramos pelo pacote que tinha a maior quantidade de queijo para ser mais alimento e menos embalagem. 

Uvas no Zaffari é muito difícil encontrar sem ser naquelas caixinhas de plástico, por sorte já tinha em casa então não precisei me estressar com isso, maçã peguei duas com as mãos mesmo e levei para pesar, pedi para a moça colocar a etiqueta em uma das maçãs e ela topou, da outra vez pesaram uma de cada vez com duas etiquetas diferentes, como se eu fosse roubar uma maçã , ao invés de pegar as cenouras bebês, optei por uma cenoura grande que não vinha em embalagem, aí é só cortar em palitinhos 

O que mais me deu dor de cabeça foi encontrar potes que não fossem de plástico e que também não fossem a coisa mais cara da face da terra. Infelizmente não tive como comprar tudo de inox como havia idealizado e acabei comprando um pote redondo de inox — que na verdade era pra ser um porta-treco de banheiro, e uma lancheira de plástico reutilizável.  

Ao invés de guardanapos, comprei uma toalhinha, que hoje tem nova utilidade que é: secar o banco da minha bicicleta quando chove 

As compras com o mínimo de plástico possível.
As compras com o mínimo de plástico possível.

Alguns ítens a mais que acabamos levando para deixar em Porto Alegre (para o meu irmão que mora no meu antigo apartamento e estava fazendo compras comigo):

Shampoo – impossível achar sem embalagem no Zaffari, fico muito feliz de ter solução pra isso em Amsterdam.
Desodorante – também não existe sem plástico, mas pegamos spray que tem a maior parte em metal.
Sabonete – Dove, maravilhoso e embalagem de papel.
Leite – decepcionada que TODAS as embalagens hoje tem essa tampa de plástico.
Cereal – Nutry. Adivinha o que tinha dentro da caixa???


Preparei os meus lanches assim:

Lanche 1: Descasquei e piquei uma maçã inteira e misturei com suco de  meio limão — segredo que minha mãe me ensinou para a maçã não ficar escura nem perder a crocância.

Lanche 2: Descasquei a cenoura, e cortei ela em tirinhas, coloquei junto com as uvas.

Lanche 3: Dois sanduíches de mini pão francês com queijo e requeijão.

Lanche 4: Pedaços de CHOCOLATE (que não estão na foto abaixo, mas estavam lá).

Maçãs de um lado, uvas e cenoura do outro na lancheira de polipropileno, e na redonda de inox os dois sanduíches.
Maçãs de um lado, uvas e cenoura do outro na lancheira de polipropileno, e na redonda de inox os dois sanduíches.

Também levei uma xícara pequena de porcelana e, é claro, minha inseparável garrafinha d’água.

Coloquei em um saco de pano separado junto com a mala de mão e voltei pra Amsterdam muito mais felizinha, no final da viagem a comissária de bordo já nem perguntava o que eu queria, simplesmente dizia “nada pra você, certo?”, com uma cara que eu não soube muito bem definir se era de satisfação ou desprezo, hahaha.

Ah, sim, eu fiz o bolo de banana, ficou maravilhoso! Dividi alguns pedaços com a família e esqueci dele na hora de preparar os lanches >.<

A esquerda uma amostra do lixo gerado nas refeições de voo, a direita eu beliscando parte do meu lanche enquanto assistia algum filme qualquer.
À esquerda uma amostra do lixo gerado nas refeições de voo, à direita eu beliscando parte do meu lanche enquanto assistia algum filme qualquer.

A quantidade de comida foi mais do que suficiente para me alimentar durante o voo, e quando cheguei em casa uma das primeiras coisas que fiz foi encomendar uma lancheira de inox profissional (cof, cof, consumismo sustentável).

Lancheira da Slice of Green de dois níveis
Lancheira da Slices of Green de dois níveis, já usei em picnics, já levei pro trabalho e já amo

25 Comments

  1. Amei isso! Nem tanto por causa do plástico :p mas pq nunca tem nada sem lactose. Vou fazer, e já que vou ter o trabalho, vou fazer sem plástico tb!!!!

  2. Natikita só tu mesmo….amo tu… muito legal, vou aderir também….tu me convenceu.(vou tentar)

  3. Thiago Thiago

    Bonitas fotos :))

  4. Adorei seu blog! Maravilhoso como mesmo longe a gente vibra na mesma frequência, as fichas vão caindo. Ando fazendo experimentos com o lixo a algum tempo, observando o que comprar no supermercado e optando por cozinhar em casa e levar lanchinhos para prestar atenção ao meu consumo. Para o lixo orgânico: composteira tem super resolvido! Já o plástico, putz. Adorei sua solução para as refeições no voo, pq além de recheada de plástico, as comidas são cheias de sal, corante e gosto de nada! Arrazou, quero ler mais!

    • Siiim guria, é isso ai, mesma frequência linda!!! Estamos nos preparando aqui pra começar a composteira também! Uma coisa muito legal sobre essas observações e mudanças que tenho notado também é o quanto a gente se torna mais mindfulness no processo, realmente vivendo e experienciando comprar, provar, entender, cozinhar, preparar, e o impacto que isso tem na gente e no meio-ambiente 🙂

  5. Nati, que ideia ótima!!! Quando vamos ao supermercado, sempre discutimos sobre isto. Faz um tempo que pensamos em levar saquinhos de tecido para comprar frutas soltas (que eu posso fazer em casa), por exemplo. É um grande incentivo o teu texto ♡

    • siiiim Isis, faz!! Queria tu junto comigo pra rodar um workshop de DIY para saquinhos de super <3 Eu comprei uns de tecido de uma moça que vende no farmers' markt aqui, mas quero comprar uma máquina pequeninha pra quebrar o galho e fazer saquinhos com camisetas velhas!

    • Guria, pode ser bem simplinho, não precisa nem grandes acabamentos. Tô com uma blusinha para o nenê na linha de produção (que prometi para o pai da criança ) e coloco os saquinhos em seguida. Que ideia!

  6. Nat, nem sabia que dava para fazer isso em vôo, eles deixam a gente entrar com uma lancheira pro no vôo, por ex? Aqui em Brasília tenho participado de várias iniciativas de sustentabilidade 😀 mesmo com muita gente sabida, o ‘sistema’ ainda dificulta. Mas vale mto a pena! Bjs

    • Dá sim Claudia Melo, eu também não sabia mas parece que todas as companhias aceitam desde que seja alimento sólido e esteja bem fechado 🙂

    • E o sistema realmente dificulta, mas é a velha história do “tem demanda”, enquanto tiver gente comprando vai ter gente produzindo, por isso acredito que boicotar o plástico pode ajudar!

    • Eu olhei minha casa neste fim de semana: qto plástico! Vou pensar em como ir trocando aos poucos e ir adotando práticas como essa que narrou! Super show :*

    • Tupperware dura uma vida inteira, isso não conta como benéfico?

    • Muito legal, Claudia, fico bem feliz!! Continuarei narrando como tem sido a minha experiência e quem sabe influenciar mais pessoas a pensar sobre substituições!

    • Roger Almeida todos os plásticos duram a vida inteira 🙂

    • Na verdade essa é a característica mais incrível do plástico, o problema é que a gente usa um material que dura pra vida inteira em produtos que usamos por 5 minutos e depois jogamos fora 🙁

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.